Edição #13: Cemitérios que falam e Museu da Pelada
SUMÁRIO
Hoje você vai ler:
Notícias sobre cultura;
Especial de Finados/Halloween: o que os cemitérios tem a te contar sobre a cidade;
Encontros de ídolos e fãs do futebol das antigas;
Estreias da semana.
PEGUE O POMBO
Fantasiados de dálmata para o Halloween. Foto do leitor Davi Tavares. Flagrou a gente por aí? Manda a foto no Instagram @opomborio ou por e-mail opomboredacao@gmail.com!
O QUE ROLOU?
🌡️Prefeitura do Rio lança primeiro protocolo de calor do país
Diante de um cenário de aquecimento global e mudanças climáticas, a Secretaria de Saúde do Rio criou um documento inédito que mede os impactos das ondas de calor na saúde e protocolos recomendados para cinco níveis de temperatura e sensação térmica, além de alertar a população para os riscos. O documento pode ser acessado no site da Prefeitura.
💭Biblioteca Nacional expõe primeira história em quadrinhos brasileira
A exposição “Sisson, 200 anos” reúne a obra do artista francês radicado no Brasil Sébastien Auguste Sisson. A história em quadrinhos (HQ) “Namoros”, de autoria dele, é considerada a primeira HQ brasileira, publicada em 1855, e faz parte da curadoria da Biblioteca Nacional. Além dela, mais de 170 itens históricos de Sisson, que era especialista em litografia, estarão abertos à visitação até janeiro de 2025.
HISTÓRIA E SOCIEDADE
As lápides falam
Por Guilherme Rezende e Maria Clara Patané
Para quem gosta de arte e história, é normal que os museus apareçam em roteiros de viagem ou em rolés pela cidade. Muitas pessoas, porém, passam longe de um local que muito diz sobre desigualdade social, expressões artísticas, arquitetura e história da cidade: os cemitérios. Ainda que alguns sintam arrepios ou torçam o nariz, o turismo cemiterial é comum em outros países – como no Recoleta, na Argentina e no Père-Lachaise, na França – e existe há alguns anos em diversas cidades brasileiras, incluindo o Rio de Janeiro.
Um exemplo desse tipo de turismo são as visitas guiadas por Samantha Lobo, professora da rede municipal da cidade e dona de uma página no Instagram chamada NecrotourRJ. Nela, ela apresenta curiosidades sobre os cemitérios da cidade, sua arte e sua importância social, além de promover tours. Vendo seu potencial educacional, a professora Samantha entende as visitas a esses espaços como oportunidades de propostas pedagógicas.
“Um dos meus objetivos, que eu ainda não conquistei, mas vou chegar lá, é oferecer para as escolas públicas dos bairros que têm cemitérios, como o Caju, Botafogo, Catumbi, entre outros, visitas mediadas para para crianças e adolescentes a partir de temáticas que a professora ou o professor definir ou algo mais geral, em que a gente vai abordar, principalmente, a história, memória e patrimônio”, conta Samantha.
A perspectiva do cemitério como espaço educacional não é muito explorada. Para a editora de vídeos Mari Cezar, são um lugar de cultura que passam despercebidos por causa do estigma. “Quando eu era mais nova, eu lembro de fazer um trabalho de geografia no cemitério falando sobre o espaço do local, sobre como era cultural e a perda de território. As fábricas em volta chamavam muita atenção e tiravam muito aquele espaço do cemitério que é um lugar de homenagem. Pode parecer paradoxal, mas eu acho que cemitérios são lugares muito vibrantes. Ele pode ser um passeio cultural que deveria ser até mais explorado e a gente não pensa muito nisso. ”
Existem diversos temas para o turismo cemiterial: linguagens da arte tumular, influências arquitetônicas, história da cidade ou até mesmo mais específicos como aviadores, militares ou sambistas. Esse último foi uma das visitas mediadas no São João Batista, conhecido como “cemitério das estrelas”, em Botafogo, pela professora de História Maria de Fátima Fonseca, além das pesquisadoras Márcia Carneiro e Isabela Silveira em parceria com a Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC). O roteiro passou pelos túmulos de Clara Nunes, Ary Barroso, Donga, Carmen Miranda, Clementina de Jesus, entre outras figuras do samba carioca. O São João Batista foi o primeiro cemitério da América Latina a ser registrado pelo Street View do Google Maps e pode ser visitado virtualmente.
“Os cemitérios guardam as memórias da cidade. E quando a gente fala de ritos fúnebres, a gente não tá falando dos mortos, tá falando dos vivos”, diz Maria de Fátima.
No São João Batista, por exemplo, as desigualdades ficam evidentes. A necrópole é dividida entre o centro, o entorno e a periferia, uma configuração parecida com a cidade dos vivos. No centro estão mausoléus, grandes jazigos e esculturas, além das aléias – como são chamadas as ruas dos cemitérios – mais arborizadas e acessíveis. Um túmulo simples nessa área pode custar o valor de uma kitnet na Tijuca, por volta de R$ 250.000.
Já o entorno tem jazigos mais básicos, um pouco afastados do portão principal, às vezes vandalizados por ladrões de cobre. E, por fim, as periferias são as gavetas, espaços verticais e mais em conta. No tour do samba, exemplos práticos mostram a discrepância. Um grande jazigo em granito vermelho com uma assinatura dourada de Carmen Miranda, homenageada em um cortejo fúnebre com meio milhão de pessoas, não passa despercebido. Já Clementina de Jesus, com diversos problemas financeiros e esquecida pela grande mídia em seus últimos anos de vida, tem a memória marcada em uma pequena placa no final de uma escadaria na periferia do cemitério.
Um pouco de história
Antes dos cemitérios públicos surgirem, o costume na Europa – e, por consequência, nos países colonizados – era enterrar os mortos na igreja. Cemitério era para os desprivilegiados: condenados pela justiça, indigentes, escravizados, suicidas e pessoas que não eram cristãs – a exemplo do Pretos Novos, na Gamboa, que hoje é um instituto de pesquisa.
“No final do século XVIII, a gente vai ter o avanço da medicina higienista e alguns cemitérios começaram a ser considerados como locais de contaminação de doenças. A partir disso, na França criou-se o primeiro cemitério público e se proibiu o sepultamento nas igrejas”, explica Maria de Fátima.
No Brasil, a política sanitária ainda demorou a pegar e chegou a causar uma revolta na Bahia em 1836, a “cemiterada”. Foi em meio a um surto de febre amarela em 1849 que a cidade do Rio de Janeiro se viu diante de uma crise funerária e fundou dois cemitérios públicos: o São Francisco Xavier, no Caju, e o São João Batista.
Visita Guiada
Aos pombos interessados em fazer uma visita guiada: a professora Samantha Lobo, da página NecrotourRJ, vai realizar duas no mês de novembro. A primeira será no dia 8 de novembro, no cemitério São João Batista. Já o segundo tour será dia 23 de novembro, no cemitério São Francisco Xavier. As visitas guiadas são gratuitas e as inscrições devem ser feitas na página do Instagram @necrotourrj. Fique de olho também no Instagram da ABEC @estudoscemiteriais, que divulga tours pelo Brasil.
ESPORTE
Gigantes do Museu: idolatria e memórias
Por João Marcello Santos e Vitor Tibana
No futebol, um ídolo é um jogador admirado pelo que faz dentro ou fora das 4 linhas. É um reflexo do que o torcedor almeja. Ele marca a história do esporte e serve de exemplo para novas gerações de atletas e fãs. O “Museu da Pelada” é uma página criada e fundada pelo jornalista Sérgio Pugliese que tem o objetivo de perpetuar as tradições do nosso futebol. Aos poucos, ela tenta retomar o sentido de ídolo por meio do encontro “Gigantes do Museu”, que acontece quinzenalmente no Pizza Park da Cobal do Humaitá, às terças-feiras. O museu reúne alguns ídolos de épocas distintas de clubes do Rio de Janeiro para relembrar o passado, pensar o futebol no presente e projeções para o futuro. Após encontros com ídolos do América, Botafogo e Bangu, na terça-feira (22), foi a vez de ex-jogadores do Flamengo de 1972 a 1974 irem à Cobal para uma boa resenha. Além de Zé Mário, foram ao evento Aluísio, Caio Cambalhota, Moreira, Paulinho Carioca, Ruy Rey, Ubirajara Alcântara, Zanata e Rondinelli.
A iniciativa surgiu após a eliminação da Seleção Brasileira na semifinal da Copa do Mundo de 2014 contra a Alemanha, com o objetivo de resgatar histórias e ex-jogadores que ficaram fora das mídias. Sérgio Pugliese contava histórias de pessoas que faziam de tudo para jogar futebol na coluna “Pelada como ela é”, do jornal O Globo. No Museu da Pelada, ele juntava alguns ex-atletas em um bar para assistirem ao jogo da sua vida, com inúmeros fãs e torcedores presentes para acompanhar o momento.
“Valeria a pena mostrar para esses jogadores, esses ídolos antigos, o quanto eles são queridos. Acredito que eles não têm noção. Assim, começou a ser sucesso. O mais legal de tudo é vermos os feedbacks desses ex-jogadores após verem as matérias. Uma das funções do museu é ‘passar o bastão’ para as novas gerações entenderem a importância desses pioneiros. Hoje vemos, além de fãs e torcedores, colecionadores.”, esclareceu Sérgio.
O olhar dos ídolos também é importante para entender a importância do projeto. O ex-jogador Zé Mário, que atuou nos quatro grandes do Rio de 1965 a 1977, esteve presente no último encontro do museu. Segundo o ex meio-campo, o amor e carinho dos torcedores, com atletas que se aposentaram há décadas, não tem preço, e que ajuda o Sérgio e o projeto sempre que pode.
“Aqui, no “Museu da Pelada”, ele não faz perguntas sarcásticas. Às vezes, as pessoas fazem perguntas a jogadores que magoam. No “Gigantes do Museu", a gente se sente à vontade, aqui é mais um bate-papo. Nós apoiamos, vemos os vídeos e fotos do passado, sempre com leveza. Já estive com Rivelino e Roberto Dinamite aqui. Eu sempre vou apoiar quando o Sérgio pedir”, conta Zé Mario.
Rondinelli, famoso pelo gol de cabeça marcado na final do Campeonato Carioca de 1978 e amigo de Sérgio Pugliese, enalteceu o trabalho do Museu da Pelada.
“Na vida terrena a gente deixa duas palavras: histórias, que escrevemos em cada profissão e principalmente nessa como jogador de futebol; e as saudades. O que entretém a nós é exatamente a recordação de tudo aquilo que a gente vivenciou. Fazia 30 ou 40 anos que eu não via mais o Aluísio, a gente só se falava por celular. O meu conterrâneo lá de Rio Pardo, Zanata, também. O que o Sérgio Pugliese faz com o Museu da Pelada é uma coisa inconteste.”
O ambiente descontraído, contaminado pelo cheiro da pizza e regado a boas conversas e a chope, atrai vários apaixonados pela história do futebol. Botafoguenses, flamenguistas, tricolores e vascaínos renunciam ao clubismo para reverenciar personagens marcantes do esporte carioca presentes no imaginário popular. É o caso do rubro-negro Rodrigo Bastos, que esteve no último encontro do Gigantes do Museu.
“O Brasil não reconhece os ídolos do passado. Não só no futebol, como na história. As pessoas não visitam museus, então imagina os casos dos ídolos do passado do futebol? A maioria desses jogadores que estão aqui eu não vi jogar. A gente tá falando aqui de 1972 a 1974, eu nasci em 1977. Só que eu corro atrás, pesquiso no YouTube, em revistas, na internet. Para mim, isso é muito importante, porque para a gente entender o presente, precisamos conhecer o passado.”
Serviço: Encontro Gigantes do Museu. Quinzenalmente às terças-feiras, às 19h, no Pizza Park, na Cobal do Humaitá. Rua Voluntários da Pátria, 448.
ESTREIAS DO CINEMA
Nesta quinta (31) estreiam os filmes:
A última invocação: Naoto Ihara vive feliz com a esposa Miyuki e o filho Haruto. Porém, quando Miyuki morre em um acidente, Naoto fica inconsolável. Haruto, em negação, decide enterrar um dedo da mãe no jardim na esperança de que, rezando todos os dias, ela volte à vida. Um dia, pai e filho são visitados por Hiroko Kurasawa, ex-colega de trabalho de Naoto. Mas o que era para ser uma simples visita a um amigo assolado pelo luto, toma um rumo macabro. Terror. Classificação 16 anos.
Terrifier 3: Art, o Palhaço, assume a identidade de Papai Noel assassino e entra em uma desenfreada jornada de vingança, com muitas mortes ao longo do caminho. Terror. Classificação 18 anos.
A vilã das nove: Roberta se encontra na melhor fase de sua vida. Recentemente divorciada, ela vive com sua filha Nara em uma liberdade que ela não sente há muito tempo, até descobrir que alguém transformou seu maior segredo no enredo de uma novela - onde ela é a vilã. Comédia/Drama. Classificação 16 anos. 🇧🇷
Malu: Rio de Janeiro, anos 90. Malu é uma atriz instável e desempregada, que vive com sua mãe conservadora, em uma casa humilde de uma favela do Rio de Janeiro, próxima ao mar. Ela tenta lidar com o relacionamento tenso com sua própria filha adulta, enquanto sobrevive com as lembranças de seu glorioso passado artístico no teatro que foi interrompido pela ditadura. Drama. 🇧🇷
Continente: Depois de 15 anos morando no exterior, Amanda volta para casa com seu namorado francês Martin. Eles chegam na enorme fazenda da família, localizada num vilarejo isolado nas intermináveis planícies do sul do Brasil. Lá, Amanda encontra o pai em coma e uma tensão cada vez maior entre os trabalhadores. Drama. Classificação 18 anos. 🇧🇷
O dia da posse: Brendo quer ser presidente do Brasil. Enquanto esse dia não chega, ele estuda direito, faz vídeos para as redes, sonha com novas conquistas e se imagina em um reality show, durante a pandemia. Documentário. Classificação 12 anos. 🇧🇷
Todo tempo que temos: As vidas de Almut, uma talentosa chef de cozinha, e Tobias, um homem recém divorciado, mudam para sempre quando eles se conhecem. Após um encontro inusitado, eles se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor. Drama/Romance. Classificação 14 anos.
Megalópolis: A cidade de Nova Roma é palco de um conflito épico entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico e idealista, e seu opositor, o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado, tentando decidir qual futuro a humanidade merece. Drama/Ficção científica. Classificação 12 anos.
Lubo: Suíça, inverno de 1939. O jovem Lubo, descendente de nômades Yenish, é convocado para o serviço militar no exército suíço para proteger a fronteira. Logo se junta a seu primo que lhe conta que a polícia levou seus filhos, por serem descendentes de ciganos, de acordo com o programa nacional governado pelos princípios da eugenia, que ganharam espaço na Europa nos anos trinta. Drama. Classificação 14 anos.
Ramona, uma história de amor à primeira vista: Ramona acaba de se mudar para Madri com seu namorado Nico e quer começar do zero: ela quer ser atriz, ela ser mãe, e viver em Lavapiés. Um dia antes de sua primeira audição, ela conhece um homem mais velho, Bruno, com quem ela tem uma conexão instantânea e forte. Ramona foge, assustada com seus próprios sentimentos, mas no dia seguinte descobre que Bruno é o diretor que ela deveria conhecer. Comédia romântica. Classificação 10 anos.
Amor radical: Documentário sobre Satish Kumar, Amor radical retrata a jornada do ex-monge, ativista, autor e educador. Documentário. Classificação Livre.
Som da esperança - A história de Possum Trot: A história real de Donna, do Reverendo WC Martin, e sua igreja no leste do Texas, na qual 22 famílias adotaram 77 crianças do sistema de adoção local, dando início a um movimento em prol de crianças vulneráveis em todo o mundo. Drama. Classificação 14 anos.