Edição #14: Show surpresa e Ainda Estou Aqui
SUMÁRIO
Hoje você vai ler:
Notícias sobre cultura;
Sobre o Sofar Sounds, um projeto musical onde a plateia descobre o artista na hora;
Uma resenha de ‘Ainda Estou Aqui’, novo filme de Walter Salles que conta a história de uma família desfalcada pela ditadura;
Estreias da semana.
PEGUE O POMBO
Uma grande pena nos Estados Unidos. A repórter Letícia Guimarães nos viu, em tamanho GG, em Nova York. A escultura é do artista Ivan Argote. Flagrou a gente por aí? Manda a foto no Instagram @opomborio ou por e-mail opomboredacao@gmail.com!
O QUE ROLOU?
📚 Flup ocupa o Circo Voador entre 11 e 17 de novembro
A 14ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup) homenageia a historiadora e professora Beatriz Nascimento e traz uma programação composta por mais de 90% de mulheres negras.
Nomes nacionais e internacionais da literatura e de outras áreas da cultura participarão de palestras, debates e saraus, como Conceição Evaristo, Bernardine Evaristo, Anielle Franco, Kabengele Munanga, Teresa Cárdenas, Yuliana Ortiz, Josephine Apraku, Siyabulela Mandela, entre muitos outros.
Na parte musical, apresentações de Lia de Itamaracá, Dona Onete, Baile da Chefona, Irmãs de Pau, e famosas rodas de samba cariocas como Pede Teresa e Poeira Pura prometem agitar o público da Flup.
Serviço: Festa Literária das Periferias no Circo Voador. De 11 a 17 de novembro, a partir das 13h. Rua dos Arcos, s/n - Lapa. Entrada gratuita. Confira a programação completa.
✍️MinC e UFRGS lançam curso de escrita criativa gratuito e on-line
O curso é focado em escrita literária e busca atingir 1.000 alunos, universitários ou não, em todo o território brasileiro, que tenham interesse em aprimorar habilidades de escrita. As aulas são 100% on-line, gratuitas e divididas em sete trilhas literárias: poesia, crônica, conto, dramaturgia, literatura infantil, literatura juvenil e narrativa longa.
As inscrições estão abertas até o dia 30 de novembro e contam com 25% das vagas reservadas para pessoas negras (pretos e pardos), 10% para indígenas e 5% para pessoas com deficiência. Na segunda etapa do programa, serão selecionados os 100 melhores cursistas para receber uma bolsa de R$ 2 mil mensais durante seis meses para produzir obras literárias. O edital e o formulário de inscrição podem ser acessados aqui.
MÚSICA
Locais secretos e shows surpresa
O projeto Sofar Sounds completa 12 anos e investe na cena musical alternativa
por Carol Mendes
“Esse evento é um bem para a cultura brasileira, que vocês nem sabem”. Assim o cantor MP Freire, de São Gonçalo, abriu sua apresentação na edição comemorativa de 12 anos de Sofar Sounds em solos cariocas.
Com o elemento surpresa e uma proposta intimista, todo mês o Sofar Sounds – criado em Londres em 2009 e no Brasil desde 2012 – prepara um show misterioso. O local só é divulgado com 36 horas de antecedência e os artistas convidados revelados apenas quando estão prestes a subirem aos palcos. Em 12 anos, já passaram pelo evento cantoras como Iza e Duda Beat e grupos como Os Gilsons. Ao todo, foram 135 edições e mais de 430 artistas.
No último encontro, realizado no final de outubro, os cantores Cley, Eline, MP e Elô animaram o Kingston Club, na Lagoa. Jantando nas mesinhas ou sentados para acompanhar o show próximo ao palco, o público pôde acompanhar de perto diferentes estilos musicais, do MPB ao jazz.
A curadoria é feita a partir de indicações, procura dos artistas ou descobertas da equipe do Sofar. A produtora cultural Nana Lima, que já trabalha com o projeto há alguns anos, costuma apresentar os artistas ao público e explica que o projeto, muito bem recebido pelo cenário alternativo carioca, busca sempre manter sua essência intimista.
“A experiência tinha tudo para crescer, mas para a gente conseguir manter a vibe, o silêncio da plateia escutando os shows, o contato com os artistas, não dá para crescer tanto. Chegamos onde queríamos chegar. Agora é manter essa energia que não tem igual, que é especial do Sofar”, Nana explica. Devido à lotação, para assistir a um show, é necessário preencher um formulário. A seleção do público é feita por ordem de chegada das inscrições.
O cantor MP já acompanhava o evento pelas redes sociais antes de encontrar seus organizadores, por um acaso, e então receber o convite para participar de uma das edições.
“Eu sou fã do Sofar e conheço há um tempão. É um evento com muita credibilidade internacional, então, para o artista independente que tá começando a expandir o público, é uma coisa que a gente almeja mesmo colocar no currículo. Eu acabei conhecendo os produtores do evento em um show e eles já tinham ouvido uma música minha, o que já me deixou muito feliz”, conta.
Para a cantora e compositora Eline, a música tem tudo a ver com encontros – como demonstrado em seu álbum Coração na Boca, de 2023, apresentado também ao público do Sofar.
“A arte é uma forma de transformação e conexão entre pessoas, sabe? Então, quando eu vejo alguém tocado com a minha música ou ficando feliz num show meu, isso já vale tudo. Acho que eu escrevo para isso. Eu me comunico através da música e se eu puder farei isso para o resto da vida.”
O engenheiro Pedro Brito, que acompanhou os shows de pertinho do palco, conheceu o projeto na Alemanha e agora já acumula mais de 10 edições de Sofar.
“Eu conheci no YouTube o Sofar de Berlim e, um dia, eu tava no meu Facebook em 2018 e vi a edição do Rio de Janeiro – e eu nem tinha ideia que existia o evento aqui. Passei a vir com frequência e chamar os amigos para acompanhar. Eu recomendo sempre vir de ouvido aberto.”
O próximo Sofar Sounds será no dia 18 de novembro e o tema será em comemoração ao mês da Consciência Negra. Para comprar os ingressos, que custam R$ 68,20, é necessário preencher o formulário, disponível aqui. Para saber dos próximos shows, fique de olho no Instagram do Sofar Sounds (@sofarsoundsrj).
RESENHA
‘Ainda Estou Aqui’ retrata o dia a dia e o luto da geração que viveu a ditadura
Filme tem grandes chances de ser indicado ao Oscar 2025 e estreia hoje (7) nos cinemas
Por Davi Goulart
O sentimento de calma antes da tempestade define bem Ainda Estou Aqui. No primeiro ato do filme, observamos o dia a dia da família Paiva em sua casa na Rua Delfim Moreira, no bairro de classe alta do Leblon. Rubens (Selton Mello) colabora disfarçadamente com opositores do regime militar, sem envolver a esposa Eunice (Fernanda Torres) bem como os cinco filhos do casal. Um dia, Rubens é levado de sua casa por agentes do governo, sem muitas explicações. Ele se despede de Eunice e de alguns filhos que estavam em casa, mas não retorna.
Ainda Estou Aqui é baseado no livro de memórias homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho mais novo do casal. O longa é o representante brasileiro para disputar uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar 2025, com possibilidade também para indicações nas categorias de melhor atriz e melhor roteiro adaptado. Ao contrário de muitos filmes Oscar bait (aqueles que são estrategicamente projetados para chamarem atenção na premiação), o longa não está interessado em fazer um registro histórico, mas sim na confecção de um drama sobre os danos geracionais causados pelo regime militar, e também sobre a história de uma mulher que teve que se reinventar para guiar uma família em luto.
Se Em Terra Estrangeira (1994), sua primeira colaboração com Fernanda Torres, Walter Salles queria capturar a rebeldia de uma geração que cresceu em meio ao caos econômico do governo Collor e não se sentia em casa no próprio país e no exterior, em Ainda Estou Aqui, o foco do diretor são os pais dessa geração revoltada, que eram adultos nos tempos de AI-5 e viveram na pele os tempos da repressão.
As interpretações eufóricas do seu primeiro filme são substituídas pelas que priorizam mais nuances e menos diálogos expositivos. E o visual em preto e branco estilizado, é substituído por uma fotografia em filme levemente granulada, que lembra em alguns momentos um registro de Super 8.
A casa da família Paiva assume um protagonismo forte na trama. Dentro dela, o diretor consegue criar um senso de rotina e de aconchego dentro desse espaço. A proximidade da família com a praia carioca é muito nítida, voltando suja de areia de um futevôlei, ou pingando por dentro da casa depois de um mergulho no mar. Os atrasos para a hora do almoço e as festas de família ao som da Tropicália desenham a estrutura dessa família comercial de margarina, que terá o seu destino alterado da noite para o dia.
Fernanda Torres é o maior mérito do filme. A atriz opta a todo momento por uma performance contida, sem a necessidade de muitos momentos de choradeira, mas que não deixa de ser profundamente dramática. Vemos Eunice consertando a boneca da filha mais nova depois de uma notícia devastadora, ou com o olhar perdido na lanchonete enquanto os filhos saboreiam um sorvete. Chega a ser angustiante, pois a todo momento ela parece a ponto de desabar emocionalmente, mas Fernanda te oferece apenas apenas fragmentos muito significativos da dor da personagem, que já dizem o suficiente.
Ela parece a todo momento estar lutando para que toda essa chuva torrencial iminente não inunde a residência da família Paiva, mesmo que isso signifique manter os filhos alheios à morte do pai. O telespectador pode, em um primeiro momento, julgar a personagem por não ser transparente até mesmo com os mais velhos. Mas fica clara a resistência dela enquanto mulher chefe de uma grande família que da noite para o dia foi roubada da própria felicidade e estabilidade, que deseja poupar os filhos de parte daquela dor. O contexto também justifica. Nos anos 70, isso “não é assunto de criança”.
Walter Salles também extrai boas performances de todos os cinco filhos, que variam tanto em idade, quanto em grau de entendimento sobre o ocorrido. Todos aqui tem o seu momento de brilhar sem que precisem existir apenas por uma questão de fidelidade histórica. Vemos as posturas mais combativas das filhas mais velhas Veroca (Valentina Herszage) e Eliana (Luiza Kosovski) – uma das poucas personagens que se permite desabar emocionalmente –, e também notamos a compreensão ingênua de Marcelo (Guilherme Silveira) e Maria Beatriz (Cora Mora).
Se Ainda Estou Aqui tem chances reais de representar o Brasil no Oscar 2025, ainda é cedo para saber. O diretor e elenco estão empenhados na campanha de premiações, participando de diversas entrevistas para veículos estrangeiros e marcando presença em diversos festivais internacionais. Desde a exibição em Veneza (onde o longa foi premiado na categoria de roteiro) no mês de setembro, Fernanda faz um vai e volta entre EUA, Brasil e Europa para a divulgação. Mas como a artista afirmou na coletiva de imprensa em São Paulo: “Esse filme já é uma porta de entrada pro mundo, ele já ganhou. Pode estourar champanhe! Vai lá sem expectativa, porque ele não vai levar”.
Nota: 🪶🪶🪶🪶½/5
ESTREIAS DA SEMANA
Além de Ainda Estou Aqui, vai rolar, até de hoje (7) até 20 de novembro o Festival Varilux de Cinema Francês. Hoje (7) também estreiam no cinema os filmes:
Não solte!: Enquanto um mal toma conta do mundo, a única proteção para uma mãe e seus filhos gêmeos é sua casa e o vínculo protetor de sua família. Precisando estar conectada o tempo todo – até mesmo se amarrando com cordas – a família se agarra um ao outro sem poder nunca se soltar. Mas quando um dos meninos questiona se o mal é real, os laços que os unem são rompidos, desencadeando uma terrível luta pela sobrevivência. Terror/Suspense. Classificação 16 anos.
Overload - O reino sagrado: Após doze anos jogando seu MMORPG (Massive Multiplayer Online Role Playing Game) favorito, Momonga faz o login pela última vez e, de repente, se vê no mundo do jogo, para então jogá-lo indefinidamente. Ao longo de suas aventuras, seu avatar recebe o título de Rei Feiticeiro “Ainz Ooal Gown”. Enquanto isso, o Reino Sagrado, que desfrutou de anos de paz, está à beira da ruína com a chegada do Imperador Demônio Jaldabaoth e seu exército de demi-humanos vilões. Animação. Classificação 16 anos.
Arca de Noé: Inspirado na obra homônima de Vinicius de Moraes. Tom, um guitarrista talentoso e pragmático, e Vini, um poeta romântico e sonhador, são uma dupla carismática e caótica de ratos. Quando o grande dilúvio se aproxima, apenas um macho e uma fêmea de cada espécie são permitidos na Arca de Noé. Tom consegue entrar, mas Vini fica para fora e conta com a ajuda de uma barata engenhosa e a boa sorte do destino para se juntar ao amigo. Durante a viagem, brigas por território e alimentos se instauram, deixando os animais mais fortes contra os mais fracos. Animação. Classificação Livre. 🇧🇷
Madame Durocher: Baseado em fatos reais, o filme conta a história de uma jovem órfã que, apesar das tragédias pessoais, luta contra o preconceito para se tornar a primeira mulher parteira reconhecida como membro da Academia Imperial de Medicina. Drama. Classificação 16 anos. 🇧🇷
Operação Natal: Depois que o Papai Noel – codinome: Das Neves – é sequestrado, o Chefe de Segurança do Polo Norte deve se unir ao mais infame caçador de recompensas do mundo em uma missão global e cheia de ação para salvar o Natal. Comédia/Ação. Classificação 10 anos.