Edição #28: Lago dos Cisnes e cinema de arquivo
SUMÁRIO
Hoje você lerá:
Notícias de cultura da semana
Resenha pública sobre o balé Lago dos Cisnes no Theatro Municipal
Sobre o Festival Cinema de Arquivo
Estreias da semana no cinema
PEGUE O POMBO
Voou o muro da estação de São Cristóvão. Foto da editora Maria Clara Patané. Flagrou a gente por aí? Manda a foto no Instagram @opomborio ou por e-mail opomboredacao@gmail.com!
O QUE ROLOU?
🍖 Comida di Buteco anuncia vencedores do Rio
Longe das nossas visitas lá no Instagram, a Zona Oeste predominou o pódio do Comida Di Buteco, acompanhado de dois bares da Zona Norte em 4º e 5º lugares. Os campeões foram: Tonamata, em Vargem Grande, Vigal Bar, em Jacarepaguá e Hora Extra, na Vila Valqueire, Quiosque do Luiz, na Ribeira (Ilha do Governador) e Seu Cristóvão, em… São Cristóvão.
🏖️ Prefeitura volta atrás de regras na orla
Em uma jogada previsível, a prefeitura mudou algumas regras do polêmico decreto com regras para a praia. As três mudanças foram:
A música ao vivo, que tinha sido totalmente proibida, volta a ser permitida nos quiosques todos os dias, entre 12h e 22h.
Garrafas de vidro, também totalmente proibidas anteriormente, voltam a ter venda permitida exclusivamente nos quiosques.
As barracas, que antes iam ser identificadas apenas com números, agora podem novamente usar nomes, desde que seguindo um padrão estipulado pela prefeitura: fundo branco, letras pretas, altura de 40 cm e largura de 3 metros.
RESENHA PÚBLICA
Theatro Municipal encerra temporada de Lago dos Cisnes com maestria
“O Lago dos Cisnes” é um clássico do balé clássico que não só conquistou o mundo, mas o Rio de Janeiro. O espetáculo voltou ao Theatro Municipal entre os dias 14 e 25 de maio, com direito à casa cheia. Todas as datas esgotaram, e o público apareceu em peso para ver o balé do russo Tchaikovsky, que completa 150 anos. O enredo conta a história de romance entre a princesa Odette, amaldiçoada com um feitiço que a obriga a viver no corpo de um cisne branco durante o dia, e o príncipe Siegfried, com o poder de quebrar essa maldição com seu amor verdadeiro. Sob a regência de Javier Logioia Orbe, o espetáculo foi adaptado por Jorge Teixeira e Hélio Bejani, e contou tanto com o Ballet quanto com a Orquestra Sinfônica do Municipal. O Pombo esteve lá no último sábado, no dia 24, e assistiu ao elenco que dançou nesse dia.
Se no primeiro ato os bailarinos ainda não estavam perfeitamente sincronizados, nos outros três o corpo de baile parecia um organismo só. O destaque fica, em especial, para os cisnes, que realmente elevaram o balé a um nível mágico e hipnotizante. Para a estudante de arquitetura Gabriela Tavares, de 26 anos, viver essa magia da dança ao vivo foi uma experiência incomparável:
“Eu achei o balé sensacional, belíssimo. Eu conhecia o enredo há anos, já assisti a vídeos de outras produções na Internet, até releituras dessa história no cinema, mas acho que nada se compara à experiência de ter assistido ao vivo. Realmente foi um sonho realizado. Eu cheguei a me emocionar, porque nenhuma gravação faz jus à experiência de estar ali assistindo”.
Entre os papéis principais, o bobo da corte, interpretado por Luiz Paulo, trouxe leveza e humor para o espetáculo, além de apresentar maestria técnica com os saltos e giros. E claro, é impossível falar d’O Lago dos Cisnes e não mencionar Juliana Valadão, bailarina que fez os papéis da Odette – o cisne branco – e Odile – o cisne negro. Como Odette, Juliana se transformou em um pássaro. A dança alternava entre movimentos fluidos e nervosos, e os pas de deux com Cícero Gomes, que interpretou Siegfried, eram verdadeiramente românticos. Já como Odile, vimos uma personagem sensual, segura de si e, em poucos minutos de palco, extremamente impactante.
A médica Vânia de Oliveira, de 56 anos, se impressionou com a habilidade da bailarina: “Foram dois personagens totalmente diferentes e é muito difícil fazer isso apenas com a expressão corporal, sem nenhuma fala. Isso sem contar que o Theatro Municipal é muito grande – você precisa fazer com que a pessoa da última fileira veja essa diferença. E ela conseguiu perfeitamente. Foi tudo muito impressionante”.
Além disso, a orquestra foi outro ponto alto da noite. Os músicos conseguiram adaptar e fazer jus a uma das trilhas sonoras mais icônicas da cultura ocidental – a música tema da dança do cisne é reconhecível a partir apenas das primeiras notas.
O estudante de cinema João Vitor Santana, de 22 anos, achou que o trabalho dos músicos foi a parte mais importante do espetáculo: “Eu nunca tinha visto balé antes, quem fez eu me interessar foi meu professor de edição de trilha sonora da faculdade. Ele falou que seria uma ótima oportunidade de ver uma orquestra ao vivo, em ação. E foi um repertório muito forte e marcante. A trilha sonora é muito importante para o espetáculo, ela funciona de forma independente dos dançarinos, que ficam em cima – a orquestra está embaixo, focada na partitura, é o papel dos dançarinos sincronizarem com a música que os músicos estão tocando”.
Mas as escolhas de adaptação feitas no último ato – mais curto do que os outros três – não agradaram a todos. “O que eu menos gostei foi o final”, disse João, “Acho que queria algo mais grandioso para terminar, mas acabou meio morno. Não entregou o que eu esperava”. Vânia também teve um sentimento parecido: “Eu achei que o final não foi o final. Embora o espetáculo tenha várias versões, eu achei que a versão que eles escolheram não foi muito compatível com o enredo. Eu tive aquela impressão de que a história não tinha acabado. O show veio em uma crescente, mas o final me desapontou. Eu estava esperando uma coisa, e foi outra. Mas foi um final feliz”, ela afirmou.
CINEMA
Arquivo Nacional promoveu festival de cinema a céu aberto no Méier
Por Pedro Mattos
No coração do Méier, o cinema foi para a rua. No último domingo, 25, o Arquivo Nacional, em parceria com o movimento cultural Leão Etíope do Méier, realizou uma sessão de cinema a céu aberto na praça Jardim do Méier. O “Circuito 10° Arquivo em Cartaz” trouxe ao subúrbio carioca curtas e médias metragens que contam histórias das populações tradicionais brasileiras, como as indígenas, quilombolas e caiçaras.
Os filmes
O primeiro filme exibido foi o curta “Quilombolas da Amazônia (2019)” , no qual moradores dos quilombos contam as histórias de seus antepassados que foram escravizados – e destacam a bravura deles para escapar dos cativeiros.
O segundo longa, “Mensageiras da Amazônia (2022)”, é um documentário metalinguístico produzido pelo Coletivo Audiovisual Munduruku Daje kapap Eypi, na aldeia TI Sawré Muybu, Pará. As jovens Munduruku contam como aprenderam a filmar, o que fortaleceu a luta desse povo na defesa da terra, principalmente durante o governo Bolsonaro.
Nesse período houve um aumento vertiginoso do desmatamento e do número de requerimentos para mineração: a TI Sawré Muybu foi a maior, com 97 pedidos. Com a ajuda das câmeras, as jovens conseguiram documentar todo o estrago causado durante esse período – flagraram embates com madeireiros e garimpeiros, o envenenamento do mercúrio nas águas e a manifestação que ocorreu em Brasília em oposição aos PL 191 e 140.
O terceiro filme, “Povos - Territórios, identidade e tradição (2021)” fala sobre a importância das políticas públicas na preservação dos costumes dos povos indígenas, quilombolas e caiçaras de Paraty (RJ), Angra (RJ) e Ubatuba (SP). O longa conta a história do Projeto Povos, que realiza uma cartografia social com as comunidades da região, para caracterizá-las e fortalecê-las, usando o mapa como uma ferramenta de proteção da vida.
Ainda foi exibido um pequeno filme sobre o cotidiano dos moradores da Aldeia Marakanã, a única aldeia urbana do Rio de Janeiro, localizada no bairro homônimo. Após a exibição, Juliana Guajajara, moradora da aldeia, fez um apelo quanto às condições que a comunidade vive hoje: “No ano passado, recebemos uma ordem de despejo. Somos um lugar que recebe escolas e universidades. Recebemos todos os parentes que não encontram acolhimento na cidade”, conta.
Aula pública
A praça, que virou sala de cinema, também virou sala de aula. Após a exibição dos filmes, houve uma conversa com a diretora-geral do Arquivo Nacional, Mônica Lima e Souza, e a diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas, Fernanda Kaingáng.
Mônica destacou o simbolismo presente no fato da sessão acontecer no dia em que se celebra o Dia Mundial da África e disse que a parceria com o Leão não é coincidência: a Etiópia, inspiração para o nome do movimento cultural, também foi um alento para a libertação das nações africanas por causa da sua resistência à colonização europeia.
Já Fernanda criticou a maneira como o Brasil exporta mercadorias que estão banhadas em sangue indígena – “necronegócio”, nas palavras da diretora –, questionou a sustentabilidade do modelo de vida das grandes cidades, como o Rio, e convidou-nos à reflexão: “Nos preocupamos com o holocausto dos outros, o que é válido, mas e o que acontece aqui? Somos remanescentes de um holocausto que não é contado, um ecocídio que acontece todos os dias”. O festival aconteceu em meio a um contexto de aprovação do “PL da Devastação” pelo Senado, que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental e retira a proteção de territórios indígenas e quilombolas que ainda estão em processo de demarcação.
A programação ainda contou com artistas musicais ligados às comunidades tradicionais. O cantor e compositor Lucas Kariri, pertencente à etnia Xukuru-Kariri e ligado ao movimento do rap indígena, realizou uma performance após a aula pública. A DJ Orkidia fez um set hipnótico e futurista para os presentes. E o encerramento ficou por conta do grupo musical Awurê, que nasceu em Madureira e tem como missão evidenciar os ritmos brasileiros e africanos na construção da sua sonoridade.
ESTREIAS DA SEMANA
Nesta quinta (29) estreiam os filmes:
Terremoto em Lisboa: Lisboa, 2027. Marta e Miguel são um casal e fazem parte de um grupo de cientistas. Os dois frequentemente assumem lados opostos no que diz respeito a questões científicas, e esse conflito é posto à prova quando dados analisados por Marta apontam para uma probabilidade alta de um enorme sismo atingir Lisboa. Os cientistas ficam indecisos sobre alertar ou não a população para a possível tragédia iminente. Ficção científica.
O Esquema Fenício: O magnata Zsa-zsa Korda sofre mais um acidente aéreo, mas logo se recupera. Ao voltar para casa, ele decide nomear sua filha, uma freira, como única herdeira de sua fortuna. Os dois então embarcam na consolidação de um novo empreendimento, que se torna alvo de espionagem industrial, intrigas, ataques terroristas e assassinos. Thriller.
Saneamento básico, o filme (relançamento): Uma pequena comunidade de descendentes de italianos enfrenta problemas de saneamento no Sul do Brasil. A cidade não tem dinheiro para resolver a questão, mas os moradores decidem usar a verba para a produção de um filme de ficção, concedida pelo governo federal, para a construção da fossa. Comédia. 🇧🇷
Entre dois mundos: Marianne Winckler, uma renomada autora francesa, decide escrever um livro sobre a insegurança no trabalho vivenciando essa realidade em primeira mão. Ela consegue trabalho como faxineira e descobre uma vida onde cada centavo faz falta. No entanto, ao viver essa provação, ela forja laços genuínos e calorosos com alguns de seus companheiros de infortúnio. Drama.
A lenda de Ochi: Em uma vila remota na ilha de Carpathia, uma tímida garota chamada Yuri foi criada para temer uma espécie animal conhecida como Ochi. No entanto, quando Yuri descobre que um bebê Ochi ferido foi abandonado, ela parte em uma aventura para levá-lo para casa. Fantasia.
O refúgio: Uma bomba nuclear é detonada em Los Angeles e a nação mergulha em um caos sem precedentes. O ex-soldado das Forças Especiais Jeff Eriksson e sua família fogem para a fortaleza de um sobrevivencialista escondida nas montanhas. À medida que ameaças violentas e condições apocalípticas se aproximam, os moradores tentam resistir. Ação.
Ernest Cole: Achados e perdidos: Documentário sobre Ernest Cole, fotógrafo da África do Sul pioneiro em disponibilizar para o mundo inteiro imagens dos horrores cometidos durante o apartheid. Documentário.