Edição #3: Cinemas de rua, comida indiana e Coraline
SUMÁRIO
Nesta edição você vai ler:
Notícias da semana na área de cultura;
Sobre a recuperação dos cinemas de rua depois da pandemia;
Dica de restaurante indiano pelo Centro;
O que o público achou da sessão nostalgia de Coraline, que completou 15 anos.
Agenda semanal de rolés.
O QUE ROLOU?
🎥 Uerj inaugura graduação de licenciatura em Cinema e Audiovisual
Por meio da organização de cineclubes, cineastas, produtores audiovisuais, professores, pesquisadores e aspirantes ao cinema da Baixada, a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF), campus da Uerj em Caxias, vai abrir o curso de Cinema e Audiovisual, uma demanda que vinha desde 2016. Quem fez a primeira fase do vestibular da Uerj esse ano poderá selecionar a opção de Cinema e Audiovisual na inscrição do exame discursivo. A turma inaugural conta com 30 vagas.
🎶 Ingressos abertos para a turnê de despedida de Gilberto Gil
Abriu hoje (22) a venda geral de ingressos para a última turnê do gigante da MPB Gilberto Gil. Os shows Gil Tempo Rei no Rio serão nos dias 29 e 30 de março de 2025 na Farmasi Arena, na Barra, com ingressos a partir de R$ 380.
🎤Adeus a Silvio Santos
A morte de Silvio Santos, no último sábado (17), comoveu o Brasil - ou ao menos parte dele. No Rio, o Cristo Redentor apareceu vestido com terno, gravata e o clássico microfone no colarinho. Eduardo Paes declarou que vai colocar uma estátua do apresentador na Lapa, bairro onde ele cresceu. A semana rendeu dentre homenagens de famosos, nostalgias televisivas e bafafás polêmicos.
📚Flip abre inscrições para editoras e autores independentes
A 22ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, abriu as inscrições para novos autores e editoras exporem suas obras. A chamada está aberta até o dia 30 de agosto e os selecionados serão anunciados no dia 10 de setembro. Interessados devem enviar e-mail para independentes2024@flip.org.br para mais informações. A 22ª Flip acontecerá entre os dias 9 e 13 de outubro, em Paraty, e homenageará João do Rio.
🍅Uma década de Junta Local
Neste sábado (24), a tradicional feira Junta Local completa dez anos e, para comemorar, fará uma programação especial dividida em dois locais no Centro da cidade. A edição de 10 anos estará no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de 12h às 19h com produtores locais atuais e antigos, rodas de conversa sobre alimentação, música ao vivo e DJs. À uma quadra de distância, na Rua do Mercado, 35, a festa de aniversário da Junta Local inicia às 14h com aula aberta sobre a história dos mercados no Centro, mesa de ping-pong liberada, venda de livros e uma programação musical de banda e DJ até às 3h da manhã.
CINEMA
Luz, Câmera, Rua! Editais públicos revivem os cinemas de rua
Por João Marcello Santos e José Esteves
🎞️ Apesar do pouco investimento e da disputa com os shopping centers, os cinemas de rua retornam ao estado do Rio de Janeiro através de editais e programas de fomento. Só na capital, a Secretaria de Cultura investiu 3,5 milhões de reais nos pequenos cinemas de bairro, que lutam contra as grandes franquias ao oferecer uma experiência diferente.
Em Niterói, um antigo xodó também está em vias de dar as caras novamente. Na esquina da Rua Álvares de Azevedo com a Praça Getúlio Vargas, por muito tempo, funcionou um dos points mais glamorosos da cidade: o Cinema Icaraí. Construído entre as décadas de 1930 e 1940 e tombado pelo município em 2001, o cinema ocupa um lugar especial na memória de muitos niteroienses, que se acostumaram com o casarão verde abandonado e caindo aos pedaços. Na semana passada, um alento para essa gente: a prefeitura homologou a licitação que abre caminho para a reforma do cinema, que promete uma variedade de atrações culturais no espaço, fechado desde 2006.
“Os grandes lançamentos estavam lá no Cinema Icaraí. Lembro de assistir ‘O Destino de Poseidon’, aquilo ali marcou época, era a sensação do momento no Rio de Janeiro. Você contava na mão os cinemas que passavam esses tipos de filmes, e o Cinema Icaraí fazia parte desse seleto grupo”, conta Paulo Hage, niteroiense e professor de Educação Física. “A sala era enorme, a tela nem se fala. Eram traços marcantes.”
Se havia outros cinemas de rua em Niterói como o Cine São Bento, colado ao Campo de São Bento, e o Cine Mandaro, no Largo do Marrão, o de Icaraí tinha mais prestígio. Por muito tempo, os principais lançamentos provocavam imensas filas que se estendiam pela Álvares de Azevedo adentro - à época, muito diferente da rua turbulenta e estressante que é.
“Era o meu cinema preferido. Especialmente pela localização, um cinema de frente para a praia. A depender do horário da sessão, a gente marcava com os amigos para se encontrar e assistir ao pôr do sol. E bombava, porque era uma época que se tinha poucas cópias desses filmes ‘blockbuster’, tipo E.T., Os Goonies etc. Muitas vezes você precisava esperar semanas para comprar o ingresso”, relembra Bianca Swan, moradora do Ingá e frequentadora do Cinema Icaraí entre as décadas de 80 e 90.
A Prefeitura de Niterói conquistou em 2019, em parceria com a UFF, o termo de uso do prédio onde funcionava o cinema. O local vai receber novas salas para exibição dos filmes, salão para concertos musicais, restaurantes com vista para o mar e espaços de convivência. O restauro, cujo investimento envolvido se aproxima de R$ 45,7 milhões, inclui a preservação da fachada e recuperação do saguão com todos os elementos originais, como a bilheteria, a bomboniere, e as escadarias, além da instalação de escada rolante e elevador para a acessibilidade. No salão principal, os componentes decorativos serão revitalizados e o palco será ampliado para comportar a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF.
No centro da capital, famoso pela praça da Cinelândia – apelidada pela quantidade de cinemas de qualidade que existiam nela antigamente, como o Odeon, o Parisiense e o Palácio –, os cinemas de rua também voltam a reunir fãs da sétima arte. O CineSanta, no bairro de Santa Teresa, começou em 2003 como um clube do filme que reunia fãs e cinéfilos na pequena Paróquia São Paulo Apóstolo todo domingo. Atualmente, ele é uma atração do bairro boêmio, com uma modesta sala de 50 lugares que ocupa o subsolo da Delegacia da Polícia Militar, e um catálogo que mistura filmes clássicos, lançamentos populares e inéditos alternativos.
Hoje o cinema se mantém com a venda dos ingressos – bem diferente de como era quando começou. “Foi na forma que deu”, lembra Fernanda Oliveira, produtora e dona do cinema. “Usamos cheque pré-datado, pegamos emprestado um projetor, poltronas de um cinema que fechou na Ilha do Governador… a gente fazia tudo, né? Um amigo sabia projetar com película, mas era eu e o Adil [Tiscatti, músico e companheiro da produtora] que fazia tudo. A gente lavava o banheiro e fazia pipoca de microondas.”
Para melhorar o equipamento e a infraestrutura do cinema, Fernanda fica de olho nos editais públicos que aparecem. Foi através de incentivos como a lei Paulo Gustavo que ela conseguiu fazer uma reforma geral e contratar um funcionário para trabalhar na bilheteria.
Um desses editais foi para a licitação de gestão do Centro Cultural José Wilker, oferecido pela Secretaria Municipal de Cultura. Localizado nas Casas Geminadas, sede da RioFilmes nas Laranjeiras, o Centro Cultural vai abrigar duas salas de cinema e um museu em homenagem ao ator José Wilker, que presidiu o RioFilme de 2003 a 2008. Apesar da Fernanda ter ganhado o edital em março, que prometia um espaço preparado para a implantação no primeiro semestre de 2024, a obra está abandonada.
De acordo com o cronograma da prefeitura, o CineCarioca José Wilker será entregue à população na segunda quinzena de outubro.
COMES & BEBES
Brunch e almoço indianos na Lapa
Por Maria Clara Patané
🍛Na meiuca da Escadaria Selarón, o Hoje Tem Curry! atrai os turistas com uma portinha no meio dos ladrilhos e um ponto de exclamação na placa. O restaurante indiano nasceu no The Maze, espaço cultural na comunidade Tavares Bastos, no Catete. Além das refeições principais, agora serve brunch – que nada mais é do que um café-da-manhã para quem está de férias – aos fins de semana (sexta a domingo, de 9 às 12h). A versão do café para duas pessoas (R$ 65) conta com ovos no molho curry, vada pav (pãozinho com batata e chutney), kheer (arroz basmati doce), bolo, chai latte (chá com leite e especiarias) e suco.
Apesar da novidade, o destaque d’O Pombo vai para o almoço. De entrada, o veg kofta (R$ 20 6 und.), um bolinho frito de legumes, passas e ricota, abre os caminhos para o show de temperos que está por vir. Ao pedir um curry de lombo agridoce, o pork vindaloo (R$ 49), o garçom logo avisa da pimenta, que não está para brincadeira. A opção mais leve deixa um Vick VapoRub no chinelo.
Já o chicken tikka masala (R$ 49), um clássico curry de frango com molho cremoso e amanteigado de tomate e especiarias, é uma opção mais confortável na picância, mas que entrega uma explosão de sabores com canela, anis e cardamomo.
O Hoje Tem Curry! oferece um “PF indiano”, com arroz basmati, samosas – um pastelzinho indiano de legumes – com chutney, pão de iogurte, dal, – um cozido de lentilhas – raita – molho de iogurte com sementes de romã, tomate, cebola e pepino, acompanhando o curry de preferência. Há opções com carne de porco, frango, vegetarianas e veganas.
As bebidas também são típicas da Índia. Além do chai latte gelado (R$ 10), é servido também o mango lassi (R$ 16), a temida e saborosa mistura de manga com leite. A sobremesa, porém, é decepcionante: um bolinho de leite em pó com uma calda de especiarias, chamado gulab jamun (R$ 18). Veio ressecado apesar da calda e, em contraste com o almoço, é bem sem graça no sabor. Ainda assim, o Hoje Tem Curry! é uma ótima opção para quem vai levar aquele primo distante para fazer um book na Escadaria Selarón.
Nota: 4.5/5 🪶
R. Manuel Carneiro, 34 - Santa Teresa, Lapa. Funcionamento de segunda à quinta de 11h às 21h, sexta e sábado de 9h às 22h e domingos de 9h às 21h. Aceita VR e Sodexo.
RESENHA PÚBLICA
Coraline volta aos cinemas após 15 anos
Por Carolina Stiepanowez
Quando Coraline e o Mundo Secreto estreou em 2009, a estudante Carolina Felix inicialmente se interessou pelo filme por causa do nome da personagem principal, parecido com o dela. Não demorou muito para o clássico de stop motion se tornar um favorito, o que inspirou uma paixão pelos gêneros de suspense e terror. No último sábado, ela foi uma de tantas fãs que encheram as salas de cinema para ver – ou melhor, rever – o longa.
Em comemoração aos 15 anos do filme, Coraline foi remasterizado para 3D e reexibido nos cinemas – e Carolina conseguiu celebrar seu aniversário de 21 anos assistindo a obra na telona pela primeira vez. O evento, que durou do dia 15 ao dia 21 de agosto, foi promovido pelos estúdios Laika e serviu como uma homenagem tanto para a personagem quanto para os fãs de longa data.
🪡Baseado no livro homônimo de Neil Gaiman e dirigido por Henry Selick, Coraline conta a história de uma menina de 11 anos que descobre uma versão ideal da sua vida atrás de uma porta secreta. Neste outro mundo, sua família, vizinhos e amigos ganham duplicatas com olhos de botão costurados que agem exatamente do jeito que ela quer. Mas, nem tudo são flores, e tem coisas muito mais sinistras escondidas por trás desta perfeição.
Com um elenco de personagens excêntricos, o filme mistura encanto e humor com momentos genuinamente assustadores para o público. O roteiro é inteligente sem subestimar os espectadores e a trilha sonora é imersiva a cada momento. Ainda assim, a verdadeira estrela do show é a animação, que, com uma estética impecável, nos transporta para esse mundo esquisito e charmoso de Coraline. E claro, tudo isso é potencializado no ambiente da sala de cinema.
Para Carolina, a experiência valeu mais do que a pena. "Eu conheço Coraline desde que eu era pequena. Quando eu vi que tinha o remaster no cinema, eu fiquei super animada. Foi bem legal."
A estudante Luisa Saraiva, de 18 anos, teve um ponto de vista parecido. "É um dos meus filmes favoritos da infância. Eu vi pela primeira vez quando tinha uns cinco anos, eu fiquei com medo e não entendi nada. Mas eu amei a animação e fui vendo até perder o medo e entender, aí hoje eu faço design, muito inspirada pelo filme. Faz um tempo que eu não revia, e agora ver numa tela de cinema foi especial".
Mas, os elementos de suspense e mistério que fizeram muitos se apaixonarem pela obra não agradaram a todos. Ana Luisa Furtado, 18 anos, veio para a sessão convencida pelo seu grupo de amigas. Quando era menor, tinha medo do filme, e a opinião não mudou com o passar dos anos.
"Achei um filme de maluco. Eu não entendi muito bem, e eu tenho muito medo daquela mulher, a mãe com os olhos de botão. Mas eu achei divertido, daria 6,5 de 10", diz.
Além do filme em si, o evento ainda contou com um minidocumentário inédito sobre a produção de Coraline, exibido no final da sessão. Nele, os animadores originais do longa, junto com outros profissionais mais novos, contaram sobre como foi o processo de criação dos personagens e refletiram sobre o papel da tecnologia na indústria da animação atualmente.
Simone Rolin, de 66 anos, e sua neta, Isabela Rolin, de 14 anos, se impressionaram com o processo de criação do filme. "Os bonecos naquela época eram muito mais complicados de serem feitos do que hoje em dia, que tem mais tecnologia", refletiu a neta.
O documentário foi especialmente relevante para as pessoas que trabalhavam com arte na plateia. Júlia Xavier, de 21 anos, vende broches feitos à mão e, a partir do minidocumentário, sentiu uma conexão pessoal com os animadores. "Eu acho muito importante para as pessoas verem que é um processo muito difícil e que demora muito tempo. Eu acho muito incrível isso de que os bonecos tem 50 tipos de bocas diferentes, e os detalhes. É tudo feito com muito carinho."
AGENDA DA SEMANA
Quinta (22)
19h - Show de Zezé Motta na Sala Cecília Meireles. Fica na Rua da Lapa, 47, Lapa. Entrada a partir de R$ 2,50.
21h - SIBC: Samba Independente dos Bons Costumes. Fica na Fundição Progresso, na Rua dos Arcos, 24, Lapa. Entrada a partir de R$ 40.
21h - Samba Encontros Casuais. No Beco do Rato, Rua Joaquim Silva, 11, Lapa.
Sexta (23)
19h - Pagode do DG: roda de pagode no Bar do Molejão. Fica na Rua Carlos Gomes, 74, Santo Cristo. Entrada gratuita.
Sábado (24)
12h até 03h - Junta Local 10 anos: feira reúne produtores de alimentos, comidas artesanais, rodas de conversa e música. Será no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Rua Primeiro de Março, 66, Centro e na Rua do Mercado, 35, Centro. Entrada gratuita.
18h - Forró de pife descalço: baile de forró sem sapatos. Para quem não sabe dançar, tem aula às 18h inclusa no ingresso. Fica na Rua Sá Ferreira, 202, Copacabana. Ingressos a partir de R$ 35.
Domingo (25)
15h - Samba da Volta. Será na Rua da Constituição, 54, Centro. Entrada R$ 15.
19h30 - Dominguinhos de Pife convida Marimelo: baile de forró com karaokê liberado e sinuca. Fica no TLT Bar, na Rua Visconde da Silva, 14, Botafogo. Entrada a partir de R$ 20.